segunda-feira, 19 de março de 2012

Atividade em sala:



Ivonildes Mendes,
Aline Oliveira e
Ivone Mendes


                                                                                             




                                                                                           Telenovela

Os temas sociais são retratados nas telenovelas, em narrativas que envolvem um caráter habitual e real, apontando questões como, por exemplo: a mulher relacionada à violência. Como no caso da novela Fina Estampa, onde a família de Celeste enfoca uma realidade de nosso cotidiano.


Onde ocorre desestruturação emocional, física e psicológica por parte do pai “Baltazar”, um homem machista, violento, intolerante, que tenta controlar a sua família baseado na violência.


A telenovela tem seu lado positivo e negativo. O positivo onde informa a população e alertando como no caso da Lei Maria da Penha. O negativo é que influencia os adolescentes e crianças a violência, criando condições favoráveis para a construção de novas identidades.


Assim, a mídia influencia as mulheres de distintas formas, orientando seu comportamento em torno de um ideal.   A exemplos disso temos os padrões de beleza, o ideal de mulher, os valores éticos e outros tantos veiculados e vendidos pela mídia através da audiência à novela.


A novela presume um grau significativo de igualdade com a realidade de muitas mulheres, que começam a refletir sobre o posicionamento da personagem, diante de suas próprias vidas e, assim, começam a buscar condições de mudanças de comportamento.
                        
Atividade
em sala
Mivaldo Conceição e
Luzia Tatiane







        Filme

         Os filmes sempre mostram uma mulher dependente do homem.
         São várias cenas em que a mulher está sempre em perigo e aparece um homem para salvá-la. A desigualdade nas cenas sempre mostra que a mulher está dependendo do homem.
         O homem que aparece sempre para salvá-la termina se apaixonando pela mulher, mostrando a fragilidade da mulher que é seduzida pelo próprio homem que aparentemente era o herói dela.
         A exemplo disso é o filme Sr. E Sra. Smith, onde ambos estão em uma disputa, um querendo matar outro e acaba que no final os dois se apaixonam.
         A sociedade machista, sedutora, aliada a mídia mostra para o público feminino o homem protetor, amigo, meigo e disposto sempre a ajudar a mulher.
         Na verdade a mulher não precisa desse homem sempre a sua disposição, pois hoje em dia ela vem se tornando cada vez mais independente de si própria.                                                                                                                             

quinta-feira, 15 de março de 2012







Eis o perigo de mexer com pessoas inteligentes!

O humorista Danilo Gentili postou a seguinte piada no seu twitter:


"King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"


A ONG Afrobras se posicionou contra: "Nos próximos dias devemos fazer uma carta de repúdio. Estamos avaliando ainda uma representação criminal", diz José Vicente, presidente da ONG. "Isso foi indevido, inoportuno, de mau gosto e desrespeitoso. Desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia. Democracia é você agir com responsabilidade”, avalia Vicente.


Alguns minutos após escrever seu primeiro "twitter" sobre King Kong, Gentili tentou se justificar no microblog: "Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco? Na piada do King Kong, não disse a cor do jogador. Disse que a loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeça de vocês é que têm preconceito."


Mas, calma! Essa não foi a tal resposta genial que está no título, e sim esta: "Se você me disser que é da raça negra, preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra, pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?


Quem propagou a ideia que "negro" é uma raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: "Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra".


Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho de ser da raça negra, eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco, MAS SIM DE BURRO.


Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de v***** e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados.


Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
- O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.


Prefiro ser chamado de macaco a ser chamado de girafa. Peça a um cientista que faça um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.


Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa, e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco?


Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo "preto", pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: "Branco, Amarelo, Vermelho, Negro"? O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho, não. Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas, é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.


Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: "E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!". Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer "Desculpe meu querido, mas já que é um afro-descendente, é melhor evitar sentar aqui. Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!" Sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas; afinal eu usei os termos politicamente corretos e não a palavra "preto" ou "macaco", que são palavras tão horríveis.


Os politicamente corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite: isso é racismo, pois transmite a ideia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus "defendidos"


Agora peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso, nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade, SOU ÍTALO-DESCENDENTE. ITALIANOS NÃO ESCRAVIZARAM AFRICANOS NO BRASIL. VIERAM PRA CÁ E, ASSIM COMO OS PRETOS, TRABALHARAM NA LAVOURA. A DIFERENÇA É QUE ESCRAVA ISAURA FEZ MAIS SUCESSO QUE TERRA NOSTRA.


Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mau gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer raça no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram negros como animais. Mas também os compraram de outros negros. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano, e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.


Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca ter escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.


Se é engraçado piada de gay e gordo, por que não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café com leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.


Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo "negro" ou "afro-descendente", tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça, você será apenas preto e eu, branco, da mesma raça - a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita "100% humano", pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão."

terça-feira, 13 de março de 2012











Recomeçar


Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo…
é renovar as esperanças na vida e o mais importante…
acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
foi aprendizado…
Chorou muito?
foi limpeza da alma…



Ficou com raiva das pessoas?
foi para perdoá-las um dia…



Sentiu-se só por diversas vezes?
é porque fechaste a porta até para os anjos…
Acreditou que tudo estava perdido?
era o início da tua melhora…
Pois é…agora é hora de reiniciar…de pensar na luz…
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal
Um corte de cabelo arrojado…diferente?
Um novo curso…ou aquele velho desejo de aprender a
pintar…desenhar…dominar o computador…
ou qualquer outra coisa…



Olha quanto desafio…quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te
esperando.



Tá se sentindo sozinho?
besteira…tem tanta gente que você afastou com o
seu “período de isolamento”…
tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu
para “chegar” perto de você.



Quando nos trancamos na tristeza…
nem nós mesmos nos suportamos…
ficamos horríveis…

o mal humor vai comendo nosso fígado…
até a boca fica amarga.


Recomeçar…hoje é um bom dia para começar novos
desafios.


Onde você quer chegar? ir alto…sonhe alto… queira o
melhor do melhor… queira coisas boas para a vida… pensando assim
trazemos prá nós aquilo que desejamos… se pensamos pequeno…
coisas pequenas teremos…
já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor…
o melhor vai se instalar na nossa vida.

E é hoje o dia da faxina mental…
joga fora tudo que te prende ao passado… ao mundinho
de coisas tristes…
fotos…peças de roupa, papel de bala…ingressos de
cinema, bilhetes de viagens… e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados… jogue tudo fora… mas principalmente… esvazie seu coração… fique pronto para a vida… para um novo amor… Lembre-se somos apaixonáveis… somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes… afinal de contas… Nós somos o “Amor”…

” Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do
tamanho da minha altura.”


Carlos Drumond de Andrade
Faça sua revolução na internet





Com a internet as redes sociais, nasce uma nova era de ativismo.

O ano de 2011 marcou um verdadeiro renascimento dos levantes e passeatas ao redor do mundo. A onda começou na Tunísia e Egito, que depuseram seus ditadores, e chegou à Europa com milhões nas ruas da Espanha protestando contra a situação do país e não parou por ai.

O movimento auto-organizado e apartidário, no melhor estilo de política " faça você mesmo", se replicou na Grécia e chegou ao EUA, com o Occupy Wall Street. A manifestação contra o poder excessivo dos bancos e das grandes corporações se iniciou com um pequeno grupo tomando uma praça no coração financeiro de Nova York e se espalhou por cerca de 1.500 cidades do mundo afora. Até o Brasil teve direito às suas versões, tímidas, em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Esses movimentos todos que usaram canais como You Tube, Twitter e Facebook para se articular e ganhar massa mostram uma nova forma de ativismo. Ele não se baseia no instinto de combate e rebeldia das passeatas contra a Ditadura ou a Guerra do vietnã, nos anos 60, mas em se sentir parte de um todo. A internet e as redes sociais fortaleceram nossa necessidade de compartilhar ideias e colaborar uns com os outros. "As causas passaram a ser a principal forma de nos conectarmos. Daí as pessoas estarem tão dispostas a integrar movimentos", diz  jornalista norte-americana Tina Rosenberg, autora do novo livro Join the Club How peer pressure can transform the World (Junte-se ao Clube: Como a pressão social pode transformar o Mundo, sem edição brasileira).

Essa vontade de se unir para defender ideais vale não apenas para causas de peso, como derrubar presidentes ou protestar contra a selvageria do capitalismo. Por trás dessas grandes bandeiras, há milhares de outras, enormes, mais segmentadas, até mesmo pessoais como fazer uma viagem, defender as bicicletas como meio de transporte ou conseguir dinheiro para uma instituição que também encontram seus seguidores. Mesmo que não sejam milhares, eles podem ser suficientes para uma transformação.

Se antes revolução significava uma multidão nas ruas em defesa de uma causa única, hoje esta imagem se fragmentou: são vários pequenos grupos que defendem várias pequenas causas. Nem por isso, elas têm menos força. "Estamos acostumados com a palavra Global significando "realmente grande". Mas hoje, graças à internet, é possível termos uma organização global minúscula", afirma o Professor do programa de telecomunicações interativas da Universidade de Nova York Clay Shirky, autor do livro A cultura da participação. Sendo assim, se você tem uma causa para lançar, chegou a hora. Há uma multidão aí fora disposta a se engajar em movimentos, colaborar com projetos e ações. Você há de encontrar a parte interessada e levantar sua bandeira.


Fonte:

domingo, 11 de março de 2012

Atividade em sala
Eva Núbia
Arilane


                                                     Telenovelas          

Atualmente, as telenovelas abordam temas que expõem, denigrem e de certa forma violentam a imagem da mulher, utilizando-as como objeto de prazer, exibindo seus corpos sem pudor.


O público, que seriam as famílias, são induzidos e acostumados a aceitar a desvalorização da mulher . Por exemplo: porquê devemos assistir na telenovela Global "Fina Estampa", a personagem Dagmar interpretada pela atriz Cris Couto que aparece numa cena isolada tomando banho de mangueira em seu quintal totalmente despida?

A mulher que antes era vista como mãe, esposa e profissional, hoje interpreta personagens como: prostituta, amante, esposas que sofrem violência dos seus maridos, entre outros. Reduzindo assim, o respeito, a admiração e a vontade de se inspirar naquele modelo de mulher.

Imaginamos que a solução seria conscientizar através de telenovela que valorizassem a mulher, que mostrassem uma mulher de garra, forte e competente.                                                 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012




Felicidade Clandestina

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser. ”Entendem? Valia mais do que me dar o livro: pelo tempo que eu quisesse ” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


Clarice Lispector
Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro, 1998.
Extraído do Portal da Faculdade Sumaré.

Homepage:
CONTOS DO COVIL. Literatura Brasileira. Disponível em: ‹ http:/www.contosdocovil.wordpress.com/lit-brasileira/. Acesso em 25 de março de 2012.

Clarice Lispector – Nascida aos 10 de dezembro de 1920 em Chechelnic na Ucrânia, chegou ao Brasil aos dois meses de idade, pois sua família, de origem judia, sofreu perseguição durante a Guerra Civil Russa. Foi uma escritora e jornalista  naturalizada brasileira.  

Passou parte da infância no Recife, onde aprendeu a ler e escrever. Durante as décadas de 60 e 70 foi colunista de alguns jornais.

O seu mais famoso romance, A Hora da Estrela, teve sua publicação meses antes de sua morte, em consequência de um câncer de ovário.

O texto é dividido em dezesseis parágrafos, e narra à história de uma garota, que é humilhada por outra, por conta de um livro: "As Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato.

A autora remete-se a sua infância, passando a descrever a história de duas protagonistas em seus diferentes aspectos: a primeira desprovida de uma beleza exterior, mas agraciada com algo que a tornava privilegiada e superior a todas suas amigas: um pai dono de uma livraria. E a outra que, é a própria autora, provida de boa aparência como as outras amigas, e que não podia desfrutar o prazer de uma leitura por dificuldades financeiras.

A garotinha filha do dono da livraria não valorizava os livros, e tentando se destacar das demais, destinava o privilégio de possuí-os apenas a si: em aniversários presenteava as colegas com postais de Recife, cidade onde moravam. Para ela ter poder significava possuir livros. Como, possuía um caráter maldoso e perverso o simples fato de negar o empréstimo de um livro já a satisfazia intimamente. E num belo dia menciona que possui “As Reinações de Narizinho” e promete emprestar a outra no dia seguinte. Começa então a afligir a menina que em busca ao livro que queria por adorar uma leitura, nem percebe diariamente a maldade da outra.

E essa tortura acaba no dia em que a perversa ao humilhar a colega com a sua recusa, é ouvida pela própria mãe, que não entende a frequência da visita da menina e se interessa para descobrir o que estava acontecendo. E então descobre as manobras e o caráter da filha. E como punição diz a filha com firmeza que empreste o livro imediatamente a colega. E para a menina humilhada que fique com o livro pelo tempo que quisesse. E esta atitude da mãe é decisiva para a conclusão do conto, e entendermos por que “Felicidade Clandestina”. A felicidade de possuir livros, a falsa ilusão, mesmo que por tempo indeterminado é mais valiosa do que para sempre. E que possuir coisas que não são nossas nos leva a uma situação de clandestinos.

                                                                    

Clarice Lispector
Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.